domingo

Idade do Vermelho

                                             

Tenho a idade certa para escrever com o corpo memórias de um tempo que teima  ficar-me por dentro. Um tempo de rasgos vermelhos onde sem pudor, a minha mão conduz a tua nas doces curvas da contemplação, onde me cedo e me nego na agonia do que quero e do que não permito. Para ti danço com ambas as mãos numa viagem inaugural... Não quero o silêncio, quero reaprender as palavras da paixão, reaprender  a guardar nelas o que resta dos beijos que sempre me desalinharam os sentidos.

Não desistas, porque não te quero suspenso, quero-te táctil,  tenso, retido no acento vulnerável de  sílabas inacabadas que sussuras ao meu ouvido, quando adormeço sobre o teu peito. Este é o inicio perene do nosso entendimento, nada de lençóis arrumados à pressa, não quero um espaço construído no vazio do medo, quero apenas tudo o que poderia querer alguém que ama. Não és mais um rosto, nem mais um corpo na minha cama... Tu és, tu! Aquele que me permite ser quem sou, quem eu gosto de ser, deixando-me despertar amuada, colocando no meu colo um repasto feito de amor e um sorriso que acompanha a mão, afagando o beijo que nela deposito.